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Showing posts from March, 2014

o coração

é uma caixa de segredos que vou destrancando. Espalho luz sobre cada um deles e a minha alma aquece quando trago os terrores à luz, quando dissipo toda e qualquer confusão. Tenho o meu coração de volta e vou usá-lo para chegar mais longe. A fantasia de o render a outra pessoa persiste lá no fundo, mas cada vez menos sei se é real, ou um mero hábito de sentir. Tão estranho não me sentir só estando sozinho. No fundo, sentir que me posso ligar a qualquer pessoa, e querer isso. Sem exclusividade. Aberto ao mundo. Venha ele.

trivialidades

Muitas das mulheres gastam muito do seu diálogo com frases declarativas. Vocalizam o que viram, o que sentiram, aquilo que vão fazer, aquilo que vão comer. Dão pouco azo ao especulativo, à imaginação. Há uma exceção aqui e ali, mas as trivialidades que saem das suas bocas entediam-me profundamente. Vejo-me como arrogante por um lado. Mas por outro sinto toda a ausência do fantástico, do disparatado. Sinto-me ainda mais só. Talvez porque a realidade não me basta, e estou sempre a rastejar para dentro de algo que só existe na minha cabeça. É estranho.

silêncios

Ele começou a aprender o poder do silêncio. Em como estar fechado e observante, deixando apenas o corpo comunicar podia obrigar os outros expressarem aquilo que lhes era desconfortável. Como se estar calado o tornasse num instrumento de interrogação. Bebendo do seu nervosismo, tornando-se maior, esperou que ela se desfizesse das suas muralhas. Um sorriso invisível desenhou-se no canto dos seus lábios - ele tinha-a onde queria. A próxima palavra dita por ele podia desfazer tudo...

Meio pensamento

Detesto quando um ignorante tenta parecer esperto. Sobretudo quando puxa argumentos para uma discussão que nada têm que ver com o que está a ser discutido. Entristece-me sobretudo quando essa ignorância é escolhida, e sei que lá atrás assenta uma mente com capacidade para tanto mais. Porque há tantos assim? Porque é que eu fui assim? E faz sentido desprezar quem fui, tanto quanto desprezo quem sou? Aceitar que não me aceito, um paradoxo existencial, uma cabeça não calibrada?

mais músculo, mais cérebro

Ele aprendeu que a mente se comporta duma forma muito mais próxima daquela empregue pelo corpo. Aparenta ser mais plástica, mais resistente, mas afinal ele sente que a mente é fundamentada por aquilo que o corpo consegue fazer. Como se a melhoria de todos os outros músculos inspirasse o cérebro a portar-se melhor e a fazer mais. Como se o foco físico apurasse o foco intelectual.