segunda estória sobre o universo
E há o universo. Se houver um universo enorme e incontável e infinito que nos absorva totalmente, que nos sugue de nós completamente e exponha o nosso rosto nas estrelas? É quase como se deixássemos de ser nós para ser nele. (Deixamos efectivamente de ser nós para ser nele.) E vemo-lo, o Cosmos, a sua imensidão reduzida no negro de uma pupila, e não podemos deixar de nos entir impelidos contra a abóbada nocturna. Então o nosso rosto nas estrelas. A música dos planetas, a poesia intocável dos astros.
E se chegar a casa for tudo? Há um gato, chamar um nome que responde doce, o sítio onde se aninham as mãos frias e os pés gelados na cama. A felicidade pode espreitar a cada segundo, como ficar com gelado no nariz ou fingir que nos magoámos. E os poemas são o quente e o peito largo e os sinais dispersos.
Há a hipnose, a vertigem do universo.
Há a quietude, a segurança do pequeno mundo.
Onde está, nisto, o amor?