A Importância do Exemplo

É tão estranho como um tipo se levanta e constata que o clima económico que atravessamos deve tanto a uma falsa aparência de prosperidade de há uma, duas décadas atrás.

Países ditos ricos, ou para o caso, regiões ditas as mais ricas se revelam agora como sendo afinal as mais endividadas. Vendeu-se uma ideia errada de prosperidade este tempo todo.

Outro exemplo empírico revela que a expressão "hey, tem bom carro, tem dinheiro" afinal devia ser ajustada para "hey, tem bom carro, endividou-se".

Até há bem pouco tempo acreditava que a culpa dos endividados morava maioritariamente neles mesmos. Afinal de contas, foram eles quem assinaram os contratos que agora lhes pesam na consciência e lhes fecham portas. Foi escolha deles.

Mas o meu erro é assumir que o povo em geral tem discernimento(*). Que é capaz de olhar para o que lhe vendem e saber ler nas entrelinhas. Que dinheiro fácil só existe enquanto intervenção momentânea da Senhora Sorte, e nunca como alicerce dum estilo de vida.

O povo em geral, e atualmente, é fraco. Ou, para ser mais preciso, é tão forte quanto o líder mais fraco que o guia. Quando um pai se descuida e peca por excesso ou usa a chicoesperteza  como qualidade e não defeito, a criança aprende o exemplo. Vejo a relação entre governantes e governados de modo semelhante. "Hey, se eles fazem assim, porque não eu também?"

Um governo que apostou no laissez-faire, que apostou na ideia que o povo era iluminado, paga agora os estragos causados por crianças rebeldes, mesquinhas e sem disciplina.

Não acredito de todo no absoluto inverso, num governo ultra-controlador, mas receio que todos passaremos por aí, nesta busca por disciplina económica e fiscal, antes de realmente cair no meio termo: um equilíbrio entre regras e autonomia, em que primeiro se ensinam valores e só depois se confia.

(*) Por achar que o discernimento popular ser pobre,acho que a Democracia é um sistema falhado e em última análise desresponsabiliza os governantes. A desenvolver num post adiante.