Os três últimos segundos d'Ele...

O vento sopra...

Ele sabia. Três segundos e ele sabia.

A gota de suor que lhe vinha escorrendo desde o centro da testa, e que por mero acaso, lhe chegou aos lábios. Sentia-lhe o sabor salgado. Estava quente, e ele estava pronto.

Os músculos dos braço, tensos, preparados, prestes a esticarem-se num espasmo frenético.

O som do seu coração alucinado abafava-lhe os ouvidos. Tudo soava distante.

O elmo em brasa, tornando a sua cabeça um sol furioso no crepúsculo.

As mãos cerradas no cabo, os nós dos dedos pálidos como cal.

Dois segundos e "Mata-o! Acaba com ele!"

Engole em seco, algo do tamanho dum punho de rocha. Sente-o rasgar a garganta à medida que desce.

Há algo que o repulsa. Olha bem para dentro de si e sabe que algo está errado. Não é medo que o detém. Não é compaixão. É propósito.

Ele sabe aquele não ser o seu lugar.

Um segundo. "Longinus, mata-o!"

Fecha os olhos e solta os músculos, empurrando a lança como uma armadilha acabada de ser disparada. Sente a ponta de ferro perfurar a carne, som que corta ar, som que corta gente, buscando as últimas gotas de vida e de alma d'Aquele judeu.

Carmim escorre, e o Nazareno solta o seu último suspiro.

A escuridão abate-se sobre a vida do soldado romano.

O vento continua a soprar...