Desolações, I

És fogo.

És um enorme incêndio na distância. Devoras cidades e devoras montanhas. Consomes reis e consomes amanhãs. Suplicam-te, imploram-te que pares. E ainda assim continuas a lavrar. Não conheces remorso, nem piedade. És justiça e és retribuição.

Ele segue incauto rumo a ti, sabendo que na distância mora uma super-nova. O calor distante força o suor na testa, seca-lhe a garganta. Ainda assim ele avança, sorrindo. Ele abraça a tragédia, sempre sorrindo por saber que na chama encontra o significado que procurava para a sua vida. O fim é para ele a razão, nunca a viagem.

Por maior que fosse o terror que brotasse nas tuas palavras e nos teus olhares, ele não te temia. Ele seguiria sempre como um rio, até ti. O único homem que não conseguias assustar ou intimidar. O homem que desejava o Apocalipse.

Desejava-te completamente, por nunca ter sido inocente.