zero um um

Começou com um berro.

A alvorada chegava lentamente naquela manhã. Rolf, depois de ter estado naquele momento ao pé do riacho com Mirra foi ter com Itgard e avisá-lo que a mulher ruiva se começava a distanciar.

"Não tem para onde ir, rapazinho. Temos os cavalos, e temos os mantimentos. Se quer viver, fica connosco, se quer morrer, fica sozinha. A escolha é dela. Viver escrava ou morrer só."

Rolf depois de ouvir isto mordeu o lábio, com dúvidas a centrarem-se na sua testa, enrugando-a. Demasiado novo para saber melhor, virou costas ao gigante vermelho e foi procurar um canto onde pernoitar. Encontrou uma tenda vazia, pouco perturbada, tirando o trilho de sangue na pequena porta.


Adormeceu só, agarrado à sua lança, como o haviam prevenido, a pensar na rapariga brutalizada e, num instante lembrou-se das crianças guardadas por Brunn. O que seria delas? Será que o Caçador as iria matar essa noite? Confuso, rendeu-se ao sono.

E então o berro que o despertou. Era Itgard.

"ACORDEM! ACORDEM! ESTÁ NA HORA DE IR! ROLF! Seu mandrião, anda cá!"

Rolf saltou do seu canto isolado numa tenda abandonada e correu para o exterior, lança em riste. O acampamento assaltado estava em alvoroço. Os seus camaradas bárbaros apressavam-se a arrumar os cavalos e a rodear os prisioneiros, a picá-los com as suas armas para que se mexessem. Apesar da brusquidão, poucos se manifestavam. Apenas faziam o que lhes era ordenado, expressões vazias postas em rostos resignados, tristes.

"O que se passa, Itgard?" perguntou. O gigante explicou-lhe que Brunn tinha avistado um acampamento não muito longe. Cavalgou durante a noite para vigiar o perímetro e constatou que não muito longe dali, duas horas a cavalo, estavam fogueiras dormentes. Podia ser o resto da caravana, podia não ter relacionamento, podia ser a Guarda de Jade na caça de bárbaros. De qualquer das formas, o mais sensato seria arrumar tudo e regressar, não fossem ser apanhados numa situação desfavorável.

"Rolf, vai à tenda onde estavas e apanha tudo o que achares que os cavalos consigam transportar. Ouro, metais, tecidos macios, tudo aquilo que já nos viste vender no mercado. Não percas tempo."

Rolf apressou-se de volta à tenda e agarrou o que encontrou. Uma pequena arca com jóias. As finas almofadas onde estava deitado. Uma espada ornamentada. Não conseguia carregar mais e então voltou ao grupo.

Os bárbaros terminavam a pilhagem. A arrumar tudo aquilo que conseguiam transportar e a fazerem-se ao longo e lento caminho de volta.

Mirra olhava para eles. Para todos eles. Memorizava-os. Olhos duros, expressão vazia enquanto se juntava aos restantes. Não haviam lágrimas naquela manhã.

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