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Showing posts from 2007

Eram estranhos.

"Eram estranhos. Os cheiros envolvendo o corpo. As diferentes tonalidades de pele. Algo não batia certo. A violência com que havia saído não era a mesma. Havia uma certa noção de arte explosiva que lhe era implícita. O sangue derramado, vindo do nariz e dos lábios, tinha espirrado no rosto de modo diferente. As contusões eram mais erráticas, menos metódicas como das outras vezes. As habituais marcas de espigões ao longo das costelas também com padrões aleatórios. A pele lacerada pelo chicote, também nada tinha a haver com o que havia sido feito em muitas outras noites. E cera. Cera de vela, derramada pelo peito. O meu peito. Marcas de ferros... ferros em brasa?! Algo de muito errado se passou comigo. Acho... a-acho que os seres encapuçados que tantas vezes entraram por minha casa não eram os de sempre... Existem... existem partes que não me lembro! Feridas... Feridas que não vi nascer! Oh-oh-deus... O q-que me ac-aconteceu? E-eram estranhos... Eram estranhos! Eram ESTRANHOS! SOCOR...

Por quem sois?

Por quem sois? Dizei-me! Por quem sois? Achai-vos reais? Dignos? Pois eu acho-vos prepotentes... Todos, sem excepção. Eu digo-vos por quem sois! Pela escuridão envolvente de árvores assombradas. Pelo silêncio taciturno da floresta. Pela saliva sedenta nas mandíbulas dum lobo. Um lobo que me olha, numa inocente voracidade, numa mais que natural vontade de me consumir. Um lobo que vê em mim o seu reflexo. Sois por mim, pelo meu lugar. Pois eu nego-vos. Não serei a presa de mim mesmo. Ou de qualquer um de vocês, querendo ser eu.

Os três últimos segundos d'Ele...

O vento sopra... Ele sabia. Três segundos e ele sabia. A gota de suor que lhe vinha escorrendo desde o centro da testa, e que por mero acaso, lhe chegou aos lábios. Sentia-lhe o sabor salgado. Estava quente, e ele estava pronto. Os músculos dos braço, tensos, preparados, prestes a esticarem-se num espasmo frenético. O som do seu coração alucinado abafava-lhe os ouvidos. Tudo soava distante. O elmo em brasa, tornando a sua cabeça um sol furioso no crepúsculo. As mãos cerradas no cabo, os nós dos dedos pálidos como cal. Dois segundos e "Mata-o! Acaba com ele!" Engole em seco, algo do tamanho dum punho de rocha. Sente-o rasgar a garganta à medida que desce. Há algo que o repulsa. Olha bem para dentro de si e sabe que algo está errado. Não é medo que o detém. Não é compaixão. É propósito. Ele sabe aquele não ser o seu lugar. Um segundo. "Longinus, mata-o!" Fecha os olhos e solta os músculos, empurrando a lança como uma armadilha acabada de ser disparada. Sente a ponta d...

Foda-se, tava a ver que não!

Ora então o porquê da minha ausência? Boa pergunta. Acho que isto dos blogues me chega em ciclos. Não é algo que se me entranhe, isto porque acho sinceramente que as opiniões das pessoas estão sobrevalorizadas. Pelo menos para mim. Ou porque pura e simplesmente não tenho pachorra para andar a ver o que os outros pensam. Isto da blogosfera é mesmo isso. Andar à cata de pensamentos e reflexões. Começam-me a chegar as minhas, apetece-me mais privacidade. Há também o trabalhinho. Comecei há pouco, e fica pouco tempo e energia para andar a reflectir e a ser sensivelzinho quanto baste para escrever qualquer merda. Porque quer se goste ou não, quem tenta escrever, chama a sua chama mais interior, e na labareda procura aquele raio de luz que se refracte na alma e traz ao de cima uma construção que todos se consigam identificar. E neste momento essa chama interior anda no mínimo, ou melhor, anda a queimar lenha para outros vapores. De momento não me apetece ser sensivelzinho, não me apetece an...

God's Gonna Cut You Down, por Johnny Cash

Sejam verdadeiros com vocês próprios e com aqueles que vos estão próximos. Caso contrário, deus, essa pequena voz ao fundo da nuca, essa estranha coincidência, essa bizarra sequência de eventos, vai vos apanhar. Por vezes o Universo equilibra-se. Lembrem-se disso. Diz-lhes Johnny!

Como Lázaro invertido

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Caríssimos e caríssimas. Ao todo deveis ser umas 4 ou 5 almas perdidas que aqui encontraram encanto suficiente para perder algum tempo. E sim, porque será sempre para perder tempo. Vivemos perdendo tempo. Cá andamos para ver quanto tempo demorámos a ser esquecidos. E agora que vos derrubei parte dos espíritos, espezinhando (como adoro esta palavra, não soa exactamente àquilo que representa?) qualquer forma positiva de encarar a vida, venho aqui em praça pública declarar que por ora vou perder o meu tempo na zona acima demarcada no mapa. Dou um biscoito a quem descobrir a que universo de fantasia se refere ali o mapa. Não, não é a Terra Média, não há lá Frodos famosos. Mas sim, vou tentar canalizar a energia que me fez construir 'O Aprendiz' para algo mais interactivo... O problema das histórias escritas é que seremos sempre meros espectadores... E um senhor do seu destino, um 'senhor monarca' quer mais que espectar... Por isso, em nome daquela parte boa e egoísta (não é...

Branca de Neve

Em meu redor observo Abater-se lentamente Branca virgem sobre os bosques... Chegas, carregando a maçã, Lentamente, pecaminosamente, sorrindo. Toco teu peito, pulsante, tenso, Morno… tão morno… Para todo o nada se expandem Essas imaculadas planícies, nossos gélidos lençóis. Aqui nos deitamos e aqui nos beijamos (lábios envenenados) Nos enrolamos e nos acariciamos. (corpos febris) Sucumbimos ardemos agitamos... Desenfreada e desesperadamente, E contudo, compassadamente, Caímos mais dentro. Segundo. A segundo. Suspiro. A suspiro. Gemido. A gemido. Lá distante, o estalar de sete, furiosas Pequenas mortes de vozes mudas. Por nossas peles rastejam… Trazem o medo que te leva... Te subjuga... e te encerra... Me afasta e... me sufoca... Lágrimas que gelam são olhos que cegam. Na solidão agora pálida... Agora vermelha... agora morte... Choro-te Branca de Neve.