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Showing posts from November, 2012

O Coiote

Eis o que vai acontecer, puto. Vais colocar-te num ponto onde trabalhas no teu imaginário e crias coisas que te fascinam de alguma forma. Fazem girar uma série de mecanismos que não servem para nada do teu dia a dia. Pelo contrário, essas engrenagens fazem tanto barulho que te demovem de fazer aquilo que tem de ser feito. Vais-te aperceber então que apesar do teu gosto por essas coisas, não tens nem o talento nem a experiência nem os conhecimentos que precisas para subsistir dessa forma, com essas engrenagens a moer constantemente. Vais-te aperceber que as tuas escolhas, apesar de seguras, te trancaram então da hipótese de trabalhares nesse e esse imaginário. Vais-te tornar normal, e por mais que esperneies vais tornar-te num branquelas classe média explorado pelo estado enquanto tenta viver uma vida normal, a fazer coisas normais, para pessoas normais.

zero zero nove

Mais água. Mais gotas. Mirra calcava cuidadosamente a terra molhada, enquanto saía da sua tenda, ainda a olhar para dentro dela. A luz continuava estranha, apesar de a mesma. Surreal. O bruto aparentemente dormia, um princípio de sorriso no canto da boca. Mas ela sabia que não havia como retaliar. Essa é a verdadeira extensão do medo, não é? Quando o tirano que nos aprisiona sabe do quão absoluta é a nossa impotência. Deixa de haver desespero, porque não há esperança que o alimente. É tudo claro. Era tudo absolutamente claro na mente de Mirra.

Oito Páginas Depois, Uma Reflexão.

Acerca do meu mini-projeto, 100 Páginas 2012: escrever todos os dias isto é impossível exige um foco demasiado apertado o trabalho rouba a energia (será possível viver sem trabalhar? será a minha namorada capaz de aceitar que faça o golpe com uma viúva velha? poderá ela ajudar-me a fazer o golpe?) receio ter puxado para a frente demasiada escuridão será que devo ouvir menos heavy metal e ler menos sobre desgraças no mundo? o resto dos textos arriscam-se a perder o ritmo  se for esperto, no final pego nisto e reordeno algumas das sequências a continuidade é filha da puta percebo como os gajos do Lost perderam o fio à meada descrever cenas bonitas são mais difíceis que descrever cenas feias vai ser interessante lidar com a parte em que se apaixonam  adoro escrever ainda que doa escrever.

zero zero oito

Sangue. Sangue novamente. Ainda que por um motivo diferente. Um respirar fundo. Um soluçar. Em seu redor a tenda parecia mais escura. Teriam passado então quatro semanas de viagem. Quatro semanas de noites partilhadas com o capitão da guarda, que ainda gemia à sua frente, rosto contorcido em dores, a boca transformada numa mistela de dentes partidos e pele rasgada. Quatro semanas a adormecer naquela tenda. Quatro semanas a conhecer aquela tenda. A memorizar a luz naquela tenda. Nunca havia sido diferente antes. Mas agora a luz era mais fria.

Coisas no Teu Caminho, uma Checklist

  Desilusão. Compreensão.               Dificuldade, Frustração. aborrecimento .                              Abrandamento. Aceleração riso  e rro. mais riso!    Novo abrandamento ?! Descoberta.                              KABOO M, uma Explosão! EUFORIA Manutenção ? Desilusão ...

O Relojoeiro e o Insecto Mecânico Que Ousou Cantar

Começa com um som. Rítmico, certo? Certo. Escuto o zumbido com as orelhas. Há que percebê-lo. É o quê?

zero zero sete

Rolf tinha olhos curiosos que vagueavam por entre as tendas. Estava rodeado por um burburinho pontuado por gritos de homens que morriam. De mulheres que cediam. De crianças, cinco, que choravam. Corria, mão ainda pouco calejada a segurar uma lança. Na mente tinha a imagem duma lebre, segura pelo cachaço, na mão enorme dum gigante vermelho. Rolf gostava de lebres. Não lhe faziam mal e apreciava a forma como se evadiam do perigo. Ágeis. Determinadas. Irrequietas. Vivas. Gostava delas vivas.