A Máquina

É uma máquina funcional. Perfeita. Funciona como esperado. Sorri quando deve sorrir. Fica séria quando deve ficar séria. Triste quando conveniente. Os servo-motores emocionais movem-se com precisão, denotando engenho. Rigor.

E no entanto, no seu interior jaz uma faísca descontrolada. Visto de longe, e se a máquina fosse transparente, ver-se-ia um incêndio dentro duma panela de pressão. A máquina fervilha por dentro, agita-se compulsivamente, à medida que o motor emocional processa os dados do dia-a-dia.

Mas por vezes ocorrem excessos ou defeitos que não correspondem à calibração do engenho. E então a máquina toda treme. Vibra, num tom assombroso, longo, demorado. E por vezes criam-se fissuras.

E alguns demónios escapam por elas.