O Aprendiz - II
Num instante conseguiste obliterar toda a minha Fé na Ordem. Uma Ordem criada para nos manter fechados e separados. Para nos manter assustados das coisas erradas. Nos manter assustados do nosso destino, assustados da liberdade de assegurar que nós seríamos capazes de nos aconchegar à noite, de nos deixar passear, sentir o sabor da maresia na rebentação, o sabor adocicado da infância, o torpor de voltas e mais voltas nos braços deles.
Para para sempre permanecer maré vaza…
A tua graça permanece tua, os teus gestos, o teu andar, o estar, o encolher de ombros à medida que te apercebes de que te acabo de desmascarar, a ti, aos teus, e às mentiras de milhares de anos…
À medida que paro e espero que algo em mim… se pronuncie.
Então as minhas palavras deixando de ser minhas, brotando do meu peito, passando a ser as de um povo, jorrando inquisidoras, inseguras, inconformadas:
- Como é possível algo durar tanto tempo? Como é possível que consigam manter uma fachada destas por milénios? Como se conseguem assegurar que existem dinastias permanentemente odiando as outras, séculos após séculos, baseando-se num motivo que ainda hoje permanece desconhecido? Raças imiscíveis? Reis intolerantes? Ganância? Até quando estava mais que demonstrado que não havia absolutamente nada a perder com a união das terras de Fortalessa e Arqueão? Ou quando se conseguiam alianças, seriam sempre abruptamente terminadas em tragédia? Laços de sangue entre amigos improváveis, sempre decepados de forma questionável... Suicídios de princesas inebriadas por nobres de outras terras, e nobres de outras terras levados à demência, uma classe dominante, reduzida a escombros de pessoa, uma classe outrora vestida com finos tecidos do Sul…