O Aprendiz - III
Apenas as roupas tinham o seu encanto. Subtis, de cores pouco vivas e tecidos…
Finos, frágeis, dedos quentes no meu rosto, suaves ao toque como caxemira, sedas, veludos por norma vermelhos a cor de qualquer realeza que se preze rodeada de ouro pratas e pedras nos…
Fios, anéis, cabelos negros sobre os ombros morenos, descobertos, e outros adereços, cavalos sobejamente decorados com brasões insígnias e cores um cavalo mais rico que uma aldeia não percebia o porquê de tanta opulência um cavalo mais rico que uma aldeia?
Piscatória, simples, olhos eternos, negros, onde a vida era difícil, sempre o fora e nunca por isso deixou de seguir em frente os barcos com nomes pintados nas proas “Mikaeis”, descansando na areia salpicada pelos embates, das ondas nas…
Nas rochas eternas como os da tua espécie aparentemente inalteráveis como os da tua espécie aparentemente seguras como os da tua espécie aparentemente macias como os da tua espécie e num instante tudo contrário, tudo invertido fugaz instável inseguro, uma sandália que não agarrou um corpo que deixou de largar a mão por medo. Por medo de ficar só. Por medo de morrer e dez anos de histórias de filhos carentes de bolos de canela de abraços apertados de carrosséis de vida dura (e que nunca deixou de seguir em frente) ainda dura e não suave, cortante. Em muitos pontos cortante. Dez anos fragmentados, partidos, estilhaçados cortados sangrados agora à mercê do sal, do embalar, do chorar das gaivotas, da fome das gaivotas da profanação das gaivotas, seres alados alvos que abomino. Sobretudo os de olhos azuis, vazios.
Mas não ela. Nunca ela. Calma, terna, dedos quentes no rosto, cabelos negros sobre ombros morenos. Olhos eternos. Eterna. Excepção. Excepcional. J.