O Aprendiz - VII
Estamos agora frente a frente. Como iguais. A bolha começa a perder consistência, as paredes aquosas começam a deixar nítida a imagem do teu Gabinete. A minha ira começa a refinar-se, a tornar-se engenho, vapor.
- Realmente vocês são algo simples. Reagem bem à oferta de algo tão mesquinho quanto poder. Sim, serás um aliado. Serás para já conhecido entre os conspiradores como o Exilado, mas a tua identidade deve permanecer segredo. Nada nem ninguém pode ficar a saber daquilo que aqui ficou decidido. Pelo menos não para já. A seu tempo. Não nos podemos dar ao luxo de uma população confusa. Eles têm de saber quem de facto devem temer. E isso levará tempo.
- Referiste conspiradores.
- Outros aliados. Porque a libertação não irá suceder nestes termos. Existem outros, opositores que mesmo vendo a verdade sobre os Anjos, jamais irão permitir um corte com os da vossa espécie.
- Ainda acreditam demasiado na nossa superioridade. Na Ascedência.
- Sim. A nossa casta religiosa está demasiado crente na transcendência oferecida por vocês. Não vão abdicar disso depois de uma vida inteira a acreditar que um dia se juntariam a vocês.
- O Matriarcado do Homem.
- E boa parte do Patriarcado da Luz.
- Controlando isso, controlam-se os reinos.
- Surge a unificação.
- E por fim a Libertação do Homem. É um bom plano. Como o pensas conseguir?
Não lhe dou outra resposta que um sorriso. Um sorriso de vitória. Um sorriso de apreciação do facto de que controlei as minhas emoções tal e qual como queria. Este foi o primeiro teste. Aquilo que me foi tirado será pago, na totalidade.
Com um gesto cancelo o feitiço, a água dispersa-se em todas as direcções. Primeiro gotas, depois gotículas, depois vapor, depois o Gabinete, já com menos pôr-do-sol e com mais promessa de luar. Viro costas…
- Aguarda as minhas ordens,… Anjo.
E faço-me à saída da Alvatorre, os meus passos de novo ecoando no chão de mármore.
(fim?)